terça-feira, 30 de dezembro de 2014

La Douceur de Mort


A vida é curta enquanto longa e longa enquanto curta. Existe do inexplicável, cresce na natureza a partir de si e do mundo. Ela é tudo o que há de melhor e pior. Tudo junto. Tudo separado.
Junto. Separado.
E também há a morte. Calma e silenciosa. Espreitando as vidas que por ela esbarram, ansiando-as com carinho e loucura. Eu provei da sede dela e nunca fui capaz de esquecer o travo de sua essência. Amargo como fel e ainda assim doce como o mel. A morte é uma porta ou, melhor, uma passagem sem retorno. Um caminho lindo e, diferentemente da vida, nem um pouco tortuoso, porém, sombrio.
 Eu já encontrei essa estrada, só que ela não me quis. Pelo contrário, levou a única coisa de boa que me restava nesta vida. Como uma miragem onírica, ela pegou o que restava para ser pego. E eu fiquei para trás, aos pedaços, como um espelho recém-quebrado e com a sombra de um reflexo passado.
Naquele dia, eu soube que a morte era tão boa quanto ruim.
Agridoce.
Triste e Feliz.
Porque a morte só é dolorosa para quem permanece vivendo.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

The Unspoken Goodbye...




Eu estava sentada na beirada da cadeira, com o corpo curvado sobre a mesa da sala de jantar. Meus olhos estavam inchados e vermelhos, e eu não precisava me olhar no espelho para confirmar essa dedução. As marcas secas e irregulares no papel que eu segurava firmemente entre meus dedos confirmavam as lágrimas que já não mais se encontravam escorrendo por minhas bochechas.
Desviei meus olhos da causa dessa dor insuportável que se alastrava pelo meu corpo, mas que parecia adorar o efeito que me causava sobre o peito. Eu não queria ter que partir. Eu não queria ter que deixa-lo...
Mas ele era a razão disso tudo. Ele era o culpado.
Passei as mãos trêmulas pelos meus cachos tentando prolongar o inevitável, tentando a todo custo arranjar mais tempo. Não sabia ao certo se seria para acabar vendo-o chegar em casa antes de partir ou se para que quando o visse permanecesse ali.
Talvez fossem as duas coisas. Talvez não.
A única coisa da qual eu tinha certeza era que se eu fitasse aquelas orbes verdes mais uma vez, eu não conseguiria prosseguir com os meus planos. Mais uma vez eu seria uma vítima da força que ele exercia sobre mim. E dessa vez, infelizmente, eu não podia falhar; não quando envolvia algo além de nós dois. Dessa vez não poderia ter volta.
Era por isso que eu estava ali. Despedindo-me de cada cômodo, de cada lembrança, de cada sonho, mágoa e arrependimento. A única coisa que eu estava deixando para trás era aquele pedaço de papel amaçado, que apertava contra o peito. Aquela seria minha despedida. Aquele seria meu único adeus.
Já em pé, e com as malas feitas, observava algumas de nossas fotos espalhadas pela sala de estar. Uma em questão era a que mais atraia minha atenção. O dia em que ele havia se declarado para mim. O dia em que havia me iludido, afirmado que eu era importante. Hoje, acho que nunca fui. Mas naquela adorável época eu não sabia que o amor vestia máscaras.
Tragicamente, esse foi o único tipo de amor que eu conheci.
Apesar da raiva que se acumulava com as decepções, a gravidade continuava ali... Dentro de mim, fora de mim, sugando de mim. Era a grande razão de eu não enfrenta-lo cara a cara, para dizer todas as angústias que ele me proporcionou; para dizer que eu vi as marcas de batom que mancharam suas roupas em todas as noites que chegava tarde ou os olhares e sorrisos zombeteiros que seus amigos compartilhavam, como de quem guarda um segredo de um tolo, e nesse caso, eu desempenhava esse papel. No entanto, apesar de tudo, se eu o visse novamente, eu pereceria sob a sua gravidade e novamente seria arrastada para os seus braços, para suas mentiras.
Só que eu não era mais capaz de suportar.
Puxei a aliança que há muito tempo deveria ter sido retirada do meu anelar. Ela não brilhava como antigamente. Assim como eu não era mais feliz. Depositei-a sobre a cômoda próxima à porta, apoiei minha mão sobre a maçaneta e a girei.
Aquele era o fim de tudo. Aquele era o fim do meu casamento e também o meu fim.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Palavras Soltas No Alçapão


Quando paro para pensar no que foram essas paredes, percebo que não conheço as histórias por trás de tais camadas de tinta descascada, como eu imaginava. Por mais que eu tenha, descalço, corrido os pés por essas madeiras gélidas, umedecidas pelos invernos, eu não sei o que de fato se passou. Por mais que eu tenha por essas escadas, escorregado corrimão abaixo, eu não vivi as diversas vidas que por aqui morreram.
Eu conheço o cheiro ocre dessas cortinas opacas, que balançam ao vento de imemoráveis outonos. Eu sinto a aspereza das rachaduras do teto nas pontas dos meus dedos. Eu vejo os trincados de outras famílias nas janelas. E ainda assim, eu  não consigo escutar as risadas da minha infância.
Os desconhecidos se acumulam pelos cômodos, enquanto que eu me desfaço aos poucos em momentos diluídos pelo tempo. Escorregando cada vez um pouquinho mais para o inevitável esquecimento.
E o que foram aqueles maravilhosos verões que aqueceram meu crescimento, e aqueles piqueniques primaveris, senão instantes inconstantes de ingênua felicidade. Triste equívoco que logra amargamente a existência de um tolo.
Nada mais me resta, além dessas palavras de tormenta que teimam em se amontoar pelos cantos e recantos. E mesmo que eu não queira dialogar com as diabruras de uma mente envelhecida, elas continuam bem ali, estremecendo os lustres das minhas ilusões passadas. Atiçando-me, enlouquecendo-me.
Palavras soltas no alçapão.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O Segredo do Amanhã




    O Futuro é um caminho sem chão, sem firmeza própria. É um mar de sonhos incertos e de consequências incertas. A realização ou a falha são resultados tão prováveis quanto o tudo e o nada. A parcialidade não existe. Tendemos a ser muitas coisas e a deixar de ser tantas outras. E mesmo assim tememos nossos destinos, porque O Destino é incerto e nos lembra que o é pelo simples fato de que o incerto é a única certeza que teremos em nossas vidas a cada minuto que respirarmos. A cada sonho que imaginarmos e a cada objetivo que projetarmos no futuro, não teremos a tranquilidade de saber que realmente conseguiremos concretizá-los, pois não sabemos os infinitos caminhos que nos serão mostrados e as diversas opções, das quais teremos que tomar nossas mais importantes decisões.
   Sim... O amanhã é a coisa mais desconhecida de nossas vidas e é por ele ser desse jeito que possuímos um sentido, um propósito para continuar acordando dias após dias, lutando por nossas utopias, por nossa felicidade, por nossas realizações... Há algo grandioso a ser descoberto bem ali a nossa frente, escondido por uma bruma tão fina e tão delicada, mas que apenas os anos de nossas vidas podem dissipar...

O que será que espera por nós?

terça-feira, 17 de junho de 2014

Eles Me Têm Como Merecem...


Eu não sou tão diferente de um espelho quanto os outros imaginam. Da mesma maneira que não sou tão diferente do gelo ou do fogo. O que muitas pessoas não compreendem é que eu sou mais do que elas veem e menos do que elas imaginam. Porque elas não acreditam no que de fato eu escondo e me subestimam pelo que enxergam.
Eu não tenho as pessoas, são elas que me têm; são elas que me fazem sem mudarem quem eu sou. Eu apenas reflito o que elas projetam em mim. Não tenho  culpa se consequentemente elas não se agradam com o que recebem. Os erros são deles, não meus. Eu sou a reação aos atos.
Sou acolhedor quando precisam que eu o seja, assim como sou distante quando me o fazem ser. Posso ser quente como o fogo, mas também posso ser frio como o gelo. Serei o que cada um merecer, sem mais nem menos; sem tirar nem por.

E talvez eu deva estragar a amarga surpresa de alguns e dar um curto e breve aviso: eu nunca sou injusto e por tal fato não aceito que me deem injustiça como presente falso e caricato. Se de mim quiserem distância depois não busquem retroceder em suas escolhas, porque de mim receberam apenas uma fria e permanente indiferença.

domingo, 4 de maio de 2014

Apenas Palavras




Palavras. Apenas palavras soltas ao vento e nada mais...
Palavras. Palavras imaginadas num tempo que não existe mais.

Palavras. Palavras desejadas em breve momento.
Palavras. Palavras apagadas num sopro teu.
Palavras que eu esqueço enquanto busco cegamente.
Palavras que você me deu.
Renegadas...
Palavras. 
Enterradas...
Palavras.
Abandonadas...
Palavras.
Afogadas...
No Tempo ou no Vento?
Apenas três palavras. 
E nunca mais.
E nada mais...

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Ah! Tristeza, Minha Cara...


          Ah! Tristeza, minha querida amiga, minha inspiração se foi. Perdeu-se em uma multidão de desilusões e mentiras. Fugiu de mim quando percebeu que nada receberia em troca, senão umas poucas migalhas de consideração alheia. Então, preciso de ti.
         Lembro-me claramente da época em que eu acreditava facilmente na palavra de uma pessoa amiga, até que descobri a verdade por trás de palavras meigas e desvalidas de fundamentos.
         Minha cara Tristeza, tu és minha única e verdadeira amiga. Dos outros que eu um tinha tanto estimei só sobraram mágoas e arrependimentos.
         Todos eram falsos. Todos eram mentirosos. Todos me enganaram. Mas, não pense que eles escaparam intocáveis desse lodo. Pelo contrário, pagaram ou estão nesse exato momento pagando por todas as pérfidas falas e todos os subterfúgios usados. E, eu, tristemente, observo a emergente dor nos corações daqueles com quem eu tanto me preocupava (ou que ainda me preocupo). Devo ser um tolo...
         Mas... Até que eu os perdoou. Se não fosse pela angústia que me causaram, eu não teria te encontrado, não teria te abrigado em meu cerne e com a tua ajuda não teria reencontrado minha inspiração há tanto desaparecida.

domingo, 2 de março de 2014

A Garota Branca Como A Neve


Era uma vez uma garota branca... Muito branca. Tão branca quanto à própria neve. Tinha cabelos escuros como a noite que lhe caíam até abaixo dos ombros, como uma cortina de ondas e cachos.
            Ela era linda e ninguém era capaz de negar essa beleza. Por dentro e por fora ela era magnífica. Mas, a menina tinha olhos que viam, só que não enxergavam. Achava-se comum e indiferente, e permitia que outras pessoas (invejosas) alimentassem sua insegurança.
            Um dia, quando estava infeliz com o mundo e consigo mesma, fugiu para dentro de uma floresta de dores e mentiras, onde o ar era mais frio do que em qualquer outro lugar e onde as ilusões se fortaleciam. Lá, caiu sobre uma relva de infinitas mágoas e decidiu que merecia aquele fardo.
             Para sorte da menina, passavam por ali um grupo de anões. Mas, não eram sete anões como você deve estar imaginando, na verdade, eram dezesseis, pequeninos e sorridentes anões que haviam saído de suas casas sem ao menos saberem para onde iam, até que encontraram esse motivo encolhido em meio às flores de aflição.
            Eles a ajudaram de várias formas.
             Primeiro, enxugaram suas lágrimas com bastante calma e paciência, pois enquanto uma tristeza era capturada por suas hábeis mãos, outra despencava dos olhos da inocente garota. Depois, cuidaram de seu pobre e machucado coração, livrando-lhe de todas as ervas daninha que sufocaram sua felicidade. E no lugar de cada uma, plantaram uma flor de alegria.
            Com todas as feridas cuidadas e cicatrizadas, a menina foi erguida, mão a mão, até estar totalmente de pé; seus olhos agora vivos e atentos para realidade estavam livres da névoa de duvidas e incertezas que um dia os dominaram. E, assim, ela percebeu que a floresta ao seu redor tinha mudado. Estava linda e repleta de vida.
            Quando olhou para seus minúsculos amigos percebeu que cada um derramava uma lágrima de pura alegria em um frasco de cristal, que no final do processo foi-lhe entregue como presente. Era a essência de cada um que ela levaria consigo pela eternidade, mesmo que não os visse mais.  E, dessa forma, um por um se despediu e atravessou os limites da floresta, para mundos que a menina não conhecia.
            Era, também, sua hora de partir.
            Com a neve que começava a cair das nuvens bem do alto do céu como bolinhas de papel, a menina retornou para sua casa com um brilho de vida que nunca mais se apagaria.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Dropping Dead


Às vezes nada faz sentido. Às vezes nada tem valor.
E o que se faz quando você se encontra nessa situação? Quando nada mais importa...
Ela se sentia assim. Seu coração andava descompassado; seus pensamentos um tanto desorganizados. Ela era uma bomba de sentimentos fadada à infelicidade e ao erro. Uma pobre garota sem coisa alguma que pudesse suavizar suas dores ou fechar suas chagas.
Perdida. Essa é uma palavra que a resumia muito bem. Perdida no mundo, perdida em sentimentos, perdida em si mesma.
Às vezes a vida não é fácil. Coitados daqueles que não conseguem enfrenta-la de frente com unhas e dentes. Geralmente acabam desistindo, fraquejando. E num piscar de olhos cometem um erro irreparável.

E, então, já é tarde demais.
Creio que era tarde demais...

Devotion