domingo, 2 de março de 2014

A Garota Branca Como A Neve


Era uma vez uma garota branca... Muito branca. Tão branca quanto à própria neve. Tinha cabelos escuros como a noite que lhe caíam até abaixo dos ombros, como uma cortina de ondas e cachos.
            Ela era linda e ninguém era capaz de negar essa beleza. Por dentro e por fora ela era magnífica. Mas, a menina tinha olhos que viam, só que não enxergavam. Achava-se comum e indiferente, e permitia que outras pessoas (invejosas) alimentassem sua insegurança.
            Um dia, quando estava infeliz com o mundo e consigo mesma, fugiu para dentro de uma floresta de dores e mentiras, onde o ar era mais frio do que em qualquer outro lugar e onde as ilusões se fortaleciam. Lá, caiu sobre uma relva de infinitas mágoas e decidiu que merecia aquele fardo.
             Para sorte da menina, passavam por ali um grupo de anões. Mas, não eram sete anões como você deve estar imaginando, na verdade, eram dezesseis, pequeninos e sorridentes anões que haviam saído de suas casas sem ao menos saberem para onde iam, até que encontraram esse motivo encolhido em meio às flores de aflição.
            Eles a ajudaram de várias formas.
             Primeiro, enxugaram suas lágrimas com bastante calma e paciência, pois enquanto uma tristeza era capturada por suas hábeis mãos, outra despencava dos olhos da inocente garota. Depois, cuidaram de seu pobre e machucado coração, livrando-lhe de todas as ervas daninha que sufocaram sua felicidade. E no lugar de cada uma, plantaram uma flor de alegria.
            Com todas as feridas cuidadas e cicatrizadas, a menina foi erguida, mão a mão, até estar totalmente de pé; seus olhos agora vivos e atentos para realidade estavam livres da névoa de duvidas e incertezas que um dia os dominaram. E, assim, ela percebeu que a floresta ao seu redor tinha mudado. Estava linda e repleta de vida.
            Quando olhou para seus minúsculos amigos percebeu que cada um derramava uma lágrima de pura alegria em um frasco de cristal, que no final do processo foi-lhe entregue como presente. Era a essência de cada um que ela levaria consigo pela eternidade, mesmo que não os visse mais.  E, dessa forma, um por um se despediu e atravessou os limites da floresta, para mundos que a menina não conhecia.
            Era, também, sua hora de partir.
            Com a neve que começava a cair das nuvens bem do alto do céu como bolinhas de papel, a menina retornou para sua casa com um brilho de vida que nunca mais se apagaria.

Devotion