sexta-feira, 25 de julho de 2014

The Unspoken Goodbye...




Eu estava sentada na beirada da cadeira, com o corpo curvado sobre a mesa da sala de jantar. Meus olhos estavam inchados e vermelhos, e eu não precisava me olhar no espelho para confirmar essa dedução. As marcas secas e irregulares no papel que eu segurava firmemente entre meus dedos confirmavam as lágrimas que já não mais se encontravam escorrendo por minhas bochechas.
Desviei meus olhos da causa dessa dor insuportável que se alastrava pelo meu corpo, mas que parecia adorar o efeito que me causava sobre o peito. Eu não queria ter que partir. Eu não queria ter que deixa-lo...
Mas ele era a razão disso tudo. Ele era o culpado.
Passei as mãos trêmulas pelos meus cachos tentando prolongar o inevitável, tentando a todo custo arranjar mais tempo. Não sabia ao certo se seria para acabar vendo-o chegar em casa antes de partir ou se para que quando o visse permanecesse ali.
Talvez fossem as duas coisas. Talvez não.
A única coisa da qual eu tinha certeza era que se eu fitasse aquelas orbes verdes mais uma vez, eu não conseguiria prosseguir com os meus planos. Mais uma vez eu seria uma vítima da força que ele exercia sobre mim. E dessa vez, infelizmente, eu não podia falhar; não quando envolvia algo além de nós dois. Dessa vez não poderia ter volta.
Era por isso que eu estava ali. Despedindo-me de cada cômodo, de cada lembrança, de cada sonho, mágoa e arrependimento. A única coisa que eu estava deixando para trás era aquele pedaço de papel amaçado, que apertava contra o peito. Aquela seria minha despedida. Aquele seria meu único adeus.
Já em pé, e com as malas feitas, observava algumas de nossas fotos espalhadas pela sala de estar. Uma em questão era a que mais atraia minha atenção. O dia em que ele havia se declarado para mim. O dia em que havia me iludido, afirmado que eu era importante. Hoje, acho que nunca fui. Mas naquela adorável época eu não sabia que o amor vestia máscaras.
Tragicamente, esse foi o único tipo de amor que eu conheci.
Apesar da raiva que se acumulava com as decepções, a gravidade continuava ali... Dentro de mim, fora de mim, sugando de mim. Era a grande razão de eu não enfrenta-lo cara a cara, para dizer todas as angústias que ele me proporcionou; para dizer que eu vi as marcas de batom que mancharam suas roupas em todas as noites que chegava tarde ou os olhares e sorrisos zombeteiros que seus amigos compartilhavam, como de quem guarda um segredo de um tolo, e nesse caso, eu desempenhava esse papel. No entanto, apesar de tudo, se eu o visse novamente, eu pereceria sob a sua gravidade e novamente seria arrastada para os seus braços, para suas mentiras.
Só que eu não era mais capaz de suportar.
Puxei a aliança que há muito tempo deveria ter sido retirada do meu anelar. Ela não brilhava como antigamente. Assim como eu não era mais feliz. Depositei-a sobre a cômoda próxima à porta, apoiei minha mão sobre a maçaneta e a girei.
Aquele era o fim de tudo. Aquele era o fim do meu casamento e também o meu fim.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Palavras Soltas No Alçapão


Quando paro para pensar no que foram essas paredes, percebo que não conheço as histórias por trás de tais camadas de tinta descascada, como eu imaginava. Por mais que eu tenha, descalço, corrido os pés por essas madeiras gélidas, umedecidas pelos invernos, eu não sei o que de fato se passou. Por mais que eu tenha por essas escadas, escorregado corrimão abaixo, eu não vivi as diversas vidas que por aqui morreram.
Eu conheço o cheiro ocre dessas cortinas opacas, que balançam ao vento de imemoráveis outonos. Eu sinto a aspereza das rachaduras do teto nas pontas dos meus dedos. Eu vejo os trincados de outras famílias nas janelas. E ainda assim, eu  não consigo escutar as risadas da minha infância.
Os desconhecidos se acumulam pelos cômodos, enquanto que eu me desfaço aos poucos em momentos diluídos pelo tempo. Escorregando cada vez um pouquinho mais para o inevitável esquecimento.
E o que foram aqueles maravilhosos verões que aqueceram meu crescimento, e aqueles piqueniques primaveris, senão instantes inconstantes de ingênua felicidade. Triste equívoco que logra amargamente a existência de um tolo.
Nada mais me resta, além dessas palavras de tormenta que teimam em se amontoar pelos cantos e recantos. E mesmo que eu não queira dialogar com as diabruras de uma mente envelhecida, elas continuam bem ali, estremecendo os lustres das minhas ilusões passadas. Atiçando-me, enlouquecendo-me.
Palavras soltas no alçapão.

Devotion