Eu estava sentada
na beirada da cadeira, com o corpo curvado sobre a mesa da sala de jantar. Meus
olhos estavam inchados e vermelhos, e eu não precisava me olhar no espelho para
confirmar essa dedução. As marcas secas e irregulares no papel que eu segurava
firmemente entre meus dedos confirmavam as lágrimas que já não mais se
encontravam escorrendo por minhas bochechas.
Desviei meus olhos
da causa dessa dor insuportável que se alastrava pelo meu corpo, mas que
parecia adorar o efeito que me causava sobre o peito. Eu não queria ter que
partir. Eu não queria ter que deixa-lo...
Mas ele era a razão
disso tudo. Ele era o culpado.
Passei as mãos
trêmulas pelos meus cachos tentando prolongar o inevitável, tentando a todo
custo arranjar mais tempo. Não sabia ao certo se seria para acabar vendo-o
chegar em casa antes de partir ou se para que quando o visse permanecesse ali.
Talvez fossem as
duas coisas. Talvez não.
A única coisa da
qual eu tinha certeza era que se eu fitasse aquelas orbes verdes mais uma vez,
eu não conseguiria prosseguir com os meus planos. Mais uma vez eu seria uma
vítima da força que ele exercia sobre mim. E dessa vez, infelizmente, eu não
podia falhar; não quando envolvia algo além de nós dois. Dessa vez não poderia
ter volta.
Era por isso que
eu estava ali. Despedindo-me de cada cômodo, de cada lembrança, de cada sonho,
mágoa e arrependimento. A única coisa que eu estava deixando para trás era
aquele pedaço de papel amaçado, que apertava contra o peito. Aquela seria minha
despedida. Aquele seria meu único adeus.
Já em pé, e com as
malas feitas, observava algumas de nossas fotos espalhadas pela sala de estar.
Uma em questão era a que mais atraia minha atenção. O dia em que ele havia se
declarado para mim. O dia em que havia me iludido, afirmado que eu era
importante. Hoje, acho que nunca fui. Mas naquela adorável época eu não sabia
que o amor vestia máscaras.
Tragicamente, esse
foi o único tipo de amor que eu conheci.
Apesar da raiva
que se acumulava com as decepções, a gravidade continuava ali... Dentro de mim,
fora de mim, sugando de mim. Era a grande razão de eu não enfrenta-lo cara a
cara, para dizer todas as angústias que ele me proporcionou; para dizer que eu
vi as marcas de batom que mancharam suas roupas em todas as noites que chegava
tarde ou os olhares e sorrisos zombeteiros que seus amigos compartilhavam, como
de quem guarda um segredo de um tolo, e nesse caso, eu desempenhava esse papel.
No entanto, apesar de tudo, se eu o visse novamente, eu pereceria sob a sua
gravidade e novamente seria arrastada para os seus braços, para suas mentiras.
Só que eu não era
mais capaz de suportar.
Puxei a aliança
que há muito tempo deveria ter sido retirada do meu anelar. Ela não brilhava como
antigamente. Assim como eu não era mais feliz. Depositei-a sobre a cômoda próxima
à porta, apoiei minha mão sobre a maçaneta e a girei.
Aquele era o fim
de tudo. Aquele era o fim do meu casamento e também o meu fim.