Quando paro para
pensar no que foram essas paredes, percebo que não conheço as histórias por
trás de tais camadas de tinta descascada, como eu imaginava. Por mais que eu
tenha, descalço, corrido os pés por essas madeiras gélidas, umedecidas pelos invernos,
eu não sei o que de fato se passou. Por mais que eu tenha por essas escadas,
escorregado corrimão abaixo, eu não vivi as diversas vidas que por aqui
morreram.
Eu conheço o
cheiro ocre dessas cortinas opacas, que balançam ao vento de imemoráveis
outonos. Eu sinto a aspereza das rachaduras do teto nas pontas dos meus dedos.
Eu vejo os trincados de outras famílias nas janelas. E ainda assim, eu não consigo escutar as risadas da minha
infância.
Os desconhecidos
se acumulam pelos cômodos, enquanto que eu me desfaço aos poucos em momentos diluídos
pelo tempo. Escorregando cada vez um pouquinho mais para o inevitável
esquecimento.
E o que foram
aqueles maravilhosos verões que aqueceram meu crescimento, e aqueles piqueniques
primaveris, senão instantes inconstantes de ingênua felicidade. Triste equívoco
que logra amargamente a existência de um tolo.
Nada mais me
resta, além dessas palavras de tormenta que teimam em se amontoar pelos cantos
e recantos. E mesmo que eu não queira dialogar com as diabruras de uma mente
envelhecida, elas continuam bem ali, estremecendo os lustres das minhas ilusões
passadas. Atiçando-me, enlouquecendo-me.
Palavras soltas no
alçapão.
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