Se há uma coisa que nunca esqueço nessa
vida e nunca serei capaz de fazê-lo é de um jardim quase secreto que encontrei
na minha infância.
Havia uma pequena
trilha de terra que todos sabiam existir por trás daquelas árvores longilíneas,
era estreita e avermelhada como pontas de labaredas. A sua volta apenas grama
de todos os tamanhos e tons de verde possíveis. Tudo muito simples.
Mas, o que importava e que realmente possuía
valor naquele cenário era o pequeno tesouro esquecido ao final daquela mesma
trilha. Lá havia um jardim magnífico com flores de todos os tipos, de todos os
cheiros e cores. Havia, também, bem no centro daquela maravilha, um chafariz de
cristal. Era um coração ornamentado em nuvens. Dali jorrava uma cachoeira da
água mais transparente que alguém pudesse ter visto.
Eu
amava aquele lugar.
O
jardim parecia ter vida própria, não precisava de nada nem ninguém. Existia por
si só naquele pedaço de chão abandonado. As flores pareciam nunca morrer e sempre
tinham novos botões surgindo para qualquer lado que se olhasse.
Lembro-me
de que havia um pequeno banco de madeira. Era a única coisa que aparentava ser
velha; sua tinta já se desbotava em vários tons e descascava em meio a diversas
rachaduras. Nesse mesmo banco, tinha uma estátua, a mais bonita que vi em minha
vida. E por mais que fosse branca da cabeça aos pés, sempre que eu a observava,
via uma moça com maças do rosto rubras, cabelos escuros sobre os ombros e um
vestido azul.
Nenhum
sapato.
Ela
vivia descalça e eu acreditava que isso era a maneira que ela havia encontrado para
viver eternamente conectada com aquelas flores. Talvez fosse tolice e pura
imaginação infantil, mas aqueles olhos castanhos nunca estiveram mortos. Aqueles
olhos só possuíam vida. Ela era a alma daquele jardim. E eu juro...
Ela
sorria.