sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Jardim Quase Secreto


         Se há uma coisa que nunca esqueço nessa vida e nunca serei capaz de fazê-lo é de um jardim quase secreto que encontrei na minha infância.  
Havia uma pequena trilha de terra que todos sabiam existir por trás daquelas árvores longilíneas, era estreita e avermelhada como pontas de labaredas. A sua volta apenas grama de todos os tamanhos e tons de verde possíveis. Tudo muito simples.
         Mas, o que importava e que realmente possuía valor naquele cenário era o pequeno tesouro esquecido ao final daquela mesma trilha. Lá havia um jardim magnífico com flores de todos os tipos, de todos os cheiros e cores. Havia, também, bem no centro daquela maravilha, um chafariz de cristal. Era um coração ornamentado em nuvens. Dali jorrava uma cachoeira da água mais transparente que alguém pudesse ter visto.
              Eu amava aquele lugar.
            O jardim parecia ter vida própria, não precisava de nada nem ninguém. Existia por si só naquele pedaço de chão abandonado. As flores pareciam nunca morrer e sempre tinham novos botões surgindo para qualquer lado que se olhasse.
          Lembro-me de que havia um pequeno banco de madeira. Era a única coisa que aparentava ser velha; sua tinta já se desbotava em vários tons e descascava em meio a diversas rachaduras. Nesse mesmo banco, tinha uma estátua, a mais bonita que vi em minha vida. E por mais que fosse branca da cabeça aos pés, sempre que eu a observava, via uma moça com maças do rosto rubras, cabelos escuros sobre os ombros e um vestido azul.
              Nenhum sapato.
            Ela vivia descalça e eu acreditava que isso era a maneira que ela havia encontrado para viver eternamente conectada com aquelas flores. Talvez fosse tolice e pura imaginação infantil, mas aqueles olhos castanhos nunca estiveram mortos. Aqueles olhos só possuíam vida. Ela era a  alma daquele jardim. E eu juro...
                Ela sorria.

2 comentários:

Clint disse...

Dedicado a minha amiga aniversariante, Ariane.

Boris disse...

Este texto está sublime...

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Devotion